BIOGRAFIA
Benedito Luiz Amauro, (re)conhecido como Mestre Lumumba, filho do orixá Ogum, fez-se artista e ferramenteiro desde a juventude.
Em 1973, com a expansão e crescente organização do Movimento Negro no Brasil formou na cidade de Campinas, interior do Estado de São Paulo, o Grupo de Teatro Evolução, que marcou a história do movimento negro brasileiro na contemporaneidade. Neste período, foi ator e criador de vários espetáculos, entre eles Sinfonia Negra (1974).

Na década de 1980, foi assistente de direção do musical da ópera Ongira: um grito africano, com direção de Thereza Santos (1980) e fez parte da formação de uma das primeiras bandas de reggae brasileira, o Arembepe, composto por artistas de diversos estados do Brasil. Em 1982, produz o disco Cafuné, seu primeiro trabalho autoral.
Na mesma década conhece em Salvador (BA), Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi, sacerdote do culto dos ancestrais, artista e escritor, que lhe abriu a percepção para o universo místico dos tambores Ilú. A partir deste encontro, iniciou-se na Irmandade dos Tambores Ilú, aprendendo o saber tradicional de sua fabricação e conhecendo sua sonoridade e história. O poeta e compositor descobriu então um caminho, sua vocação, unindo toda a bagagem de artista e militante ao ofício de fazedor de tambor, uma arte feita de corpo, aro, madeira, pele, nós, poesia e laçadas como os gonquis.

Funda, em 1987, em parceria com a Yalorixá Nadya Sant’Anna, sua esposa, um terreiro de Candomblé localizado na zona rural do município de São Luiz do Paraitinga (SP). Trata-se da Comunidade Cultural Religiosa de Matriz Africana Ilê Asè Omò Ayé, que reúne pessoas de diferentes cidades do Estado de São Paulo que compartilham a fé nos orixás, os princípios da vida comunitária e o gosto pela cultura e arte afro-brasileiras. A partir da sabedoria ancestral que diz Koci ewe koci orixa (“Sem as folhas não existe orixá”), o Ilê Asè Omò Ayé defende o princípio da recuperação e preservação da mata nativa de seu terreno, bem como, de todo o seu entorno.

Em 1988, participou do álbum Negros Africamos, ao lado de nomes como Milton Nascimento e Emílio Santiago. No ano seguinte, foi homenageado pelo Centro Cultural São Paulo com o projeto Vinte Anos de Lumumba. O encerramento do projeto foi um grande show com a participação dos 60 alunos das oficinas de construção de tambores e ritmo ministradas por Mestre Lumumba.
No início da década de 1990, iniciou o trabalho Ifé Bogbo Aye (“amor para a terra toda”), espetáculo de canto e dança que reúne a pesquisa de canções tradicionais do imaginário religioso afro-ameríndio brasileiro. Este trabalho de pesquisa acompanha toda a vida do Mestre e tem base em sua vivência desde a infância nas casas religiosas afro-brasileiras em que esta tradição oral era compartilhada pelos mais velhos.
No Festival de Inverno de 1992 de Antonina (PR), uma nova versão deste espetáculo foi montada em parceria com o Maestro Álvaro Nadolny, do Coral da UFPR e gravado o CD Segundo Ato. Em 1994, Ifé Bogbo Aye fez turnê na Europa, ocasião em que Mestre Lumumba ministrou oficinas de ritmo em Milão (Itália).
No carnaval de 1997, em parceria com o Mestre Congadeiro Quintino Bento, na cidade de Tremembé /SP, formou a Orquestra do Erê, onde se desenvolvem trabalhos que misturam a cultura popular e a música erudita pelas mãos de jovens e através dos ensinamentos dos Mestres.
Na década de 2000, o projeto Ifé Bogbo Aye foi realizado na Biblioteca Mario de Andrade em São Paulo/SP. Durante 9 meses, por meio de oficinas e do processo de vivência discipular, que envolvia produção de tambores e estudo dos ritmos afro-brasileiros, formou-se uma Orquestra de Tambores com um grupo de 80 pessoas.
Ainda na década de 2000, idealizou e dirigiu o espetáculo O Sopro do Espírito Santo – Uma Suíte Caipira. As composições, frutos da pesquisa realizada entre 1996 e 2005, trazem o universo musical e religioso da cultura popular do Vale do Paraíba, em especial as referências das congadas. Com Quintino Bento, as crianças do Bloco de Erê (Projetos sociais do Vale do Paraíba) e o Coral Gaude, o projeto resultou na gravação de um CD/DVD na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e foi premiado pelo Museu da Cultura Brasileira.
Em 2003, com apoio da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, participou realizando a direção musical e composição do espetáculo Largo da Matriz, de direção e texto de Lino Horas. O trabalho foi realizado com o grupo Pombas Urbanas de São Paulo (SP) em um elenco de 30 jovens.
Nesta década lança o disco Axó, gravado com a participação de Dinho Nascimento e produção de Beto Mendonça pelo Selo Pôr do Som. Axó é um dos melhores registros de seu trabalho, onde sincronizou suas poesias e os ritmos percussivos que domina. É um disco marcado pelo reggae com raízes brasileiras do interior de São Paulo, que usa da linguagem do culto dos orixás.
Atualmente, Mestre Lumumba, prepara a antologia de seus mais de cinquenta anos de trabalho na música, organizando suas composições, recuperando a memória de suas 400 letras musicais, poesias, histórias para o lançamento de seu novo trabalho.
Em paralelo a sua carreia musical, ministra oficinas, palestras, contação de histórias, teatro e dança por todo o Estado de São Paulo apresentando os resultados dos mais de cinquenta anos de pesquisa da cultura afro-ameríndia formando músicos, luthiers, educadores, gestores e produtores culturais e promovendo a preservação e a difusão de saberes e fazeres tradicionais brasileiros.